Embora Platão tenha vivido há mais de dois mil e trezentos anos antes de nossa data atual no séc. XXI, suas teorias em torno do processo de cura surpreendem pela profundidade e atualidade com que se sustentam, intuem e revelam certos mistérios ainda para nossos dias. É bastante frequente encontrarmos imagens míticas associadas aos temas e às reflexões empreendidas pelo filósofo. Esse diálogo entre mito e filosofia é uma estratégia mais que didática, na medida em que Platão busca o que, nos mitos, é conhecimento válido para suas teorias e o que, neles, precisa ser alterado ou substituído. Com o tema da cura não é diferente, ele recorre a um almanaque mítico, impressionantemente, rico, a fim de naturalizar os processos de cura considerados, via de regra, mágicos. Para se perceber essa nuance, é preciso verificar como as imagens míticas encantadas têm seus elementos alterados e/ou substituídos por elementos psicológicos. Esta é a chave para a compreensão do processo de cura psicossomática e de cura política em Platão que o autor Luciano Coutinho coloca em diálogo com a atualidade filosófica e científica e com seu leitor.